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ENTREVISTA : VICKING

Atraente, boa pinta e com um sorriso encantador. Este é Marcelo, ou simplesmente MR. VICKING, organizador e responsável pela Festa WOOF!, famosa por ser inspirada em padrões internacionais e ter como foco o público ursino e seus admiradores. Fui recebido para esta entrevista na Sauna 269, onde acontece a festa WOOF SEXXXY, e conversamos sobre os projetos para 2008, comunidades ursinas, vida pessoal e relacionamento.

BearBlogMagazine: Onde você nasceu?

Mr. Vicking: Sou natural de Brasília e sou sociólogo. Há sete ou oito anos me mudei para Santos por motivos profissionais e lá recebi um convite para vir a São Paulo – foi quando comecei a questionar o padrão de beleza vendido pelo mundo GLS e me descobri urso.

BBM: Quando surgiu a o projeto Festa WOOF! ?

Vicking: Na verdade surgiu de uma grande brincadeira. Sou bem eclético em relação a conhecer casas noturnas. Assim conheci muitos ursos, chasers e tive contato com o segmento bear. Achei a proposta muito interessante, mas um pouco distante do que é feito no segmento bear do mundo todo - para mim é como se a terceira maior metrópole do mundo estivesse atrás de cidades como a Cidade do México, que tem casas com um movimento incrível. Viajei muito pela Europa e EUA, conheci muito profissional nestes paises, comecei a questionar o fato com meus amigos e pensamos: porque não dar uma festa igual à destes países? Então nasceu a primeira Festa WOOF!, apenas vinte dias antes da parada. Fomos ousados e inovadores, nem sabíamos no que ia dar e tornou-se um sucesso incrível - há apenas quatro dias para a festa soubemos que o local seria pequeno demais, havia até estrangeiros prestigiando a festa. Ficamos muito satisfeitos com o resultado, e os estrangeiros surpresos com a qualidade.

BBM: Quais as primeiras impressões da festa?

Vicking: Quem não conseguiu entrar ouviu falar que era uma festa dress code, porque a WOOF! é uma festa apimentada e colocou gogo bears profissionais no palco, o que era uma coisa inédita no país. Estamos somente há seis meses na ativa e já somos uma referência no segmento.

BBM: Quando surgiu o gosto pelas roupas de couro ?

Vicking: Na verdade comecei a gostar mesmo durante a produção da WOOF!. Tenho adoração pelo movimento leather, curto os figurinos e até me sinto bem com eles (risos). O movimento leather é um estilo de vida que eu gostaria de ter e o que muita gente não sabe é que o movimento bear nasceu daí, por volta dos anos 70, um período mais liberal, mais solto. Soube que muita gente tem medo de vestir por pensar que tem algo a ver com violência ou fetiche, mas não tem nada a ver. Posso dizer que sou um “sugarbear” (risos).

BBM: Você acha que as pessoas ainda confundem o termo Urso?

Vicking: Sim, o segmento bear é gigante e pouca gente entende o conceito. O termo bear é só um conceito, nem é necessário ser gordo para ser urso.A internet é um veículo fabuloso, porém não atinge nem a metade do público, então temos buscado outras maneiras de fazê-lo.

BBM: O que você acha sobre ter um relacionamento homossexual sério?

Vicking: É difícil, mas acredito em uma relação estável, apesar de uma relação entre dois homens ser mais complicada – são duas energias positivas que necessitam de equilíbrio, mas a experiência está sendo incrível.

BBM: Você acha que o preconceito contra homossexuais diminuiu com o auxílio da Internet?

Vicking: Acho que diminuiu, mas ainda está distante do ideal. Estamos vivendo uma tirania, um preconceito velado que é muito mais perigoso que o preconceito explícito. As pessoas perdem oportunidades de emprego ou de subir em sua carreira por existir aqueles que acham isto uma má influencia na capacidade ou competência profissional.
O movimento GLS de uma forma geral tem conquistado um espaço muito importante, mas infelizmente o Brasil mantém uma cultura muito machista , conservadora. Há pessoas que sofrem nas ruas e até mesmo dentro de suas casas, mas acho que o preconceito mais nefasto é o que ocorre dentro da tribo GLS, até mesmo dentro da comunidade da WOOF!. Nós somos homens e temos orgulho de nossa masculinidade, mas há uma ala mais radical que não aceita aqueles que são mais afeminados e gostam de coisas do gênero. É um tipo de preconceito muito complicado, pois somos todos gays! Claro que não haverá na WOOF! um show com drag-queens ou gogo boys bem malhados. A proposta é ser uma festa máscula, mas ainda existem pessoas maldosas sobre este tipo de pensamento. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa clara e digo que todas as pessoas, mesmo que estejam fora do conceito, são bem vindas. Muita gente gostaria de ir à festa, mas acaba deixando de lado por causa de pessoas que dizem absurdos sobre o projeto.

BBM: A WOOF! é criticada pelo fato de não proibir que se tirem fotos na festa – o que agrada algum e desagrada a outros, que alegam falta de privacidade. Qual a situação desta discussão?

Vicking: Privacidade é uma questão bem complicada, afinal é um direito constitucional. Às vezes eu mesmo me incomodo porque acabei me tornando uma figura conhecida devido à promoção e divulgação da WOOF!, mas entendo que é uma coisa inevitável e que mesmo assim o projeto merece minha atenção. A questão das fotos é complicadíssima desde o início, pois a produção não tem como proibir este tipo de coisa! Há aqueles que querem aparecer e mostrar o visual que é a alma da festa, mas também há aqueles que não querem aparecer. Os dois lados têm razão e poderiam procurar um equilíbrio, mas há um pouco de exagero de algumas pessoas. Afinal, se você é uma pessoa reservada, porque estaria na fila do gargarejo do palco onde se apresentam os gogo bears? Inevitavelmente ficará estampados nas fotos de diversas câmeras e celulares.

BBM: Houve críticas à festa em algumas comunidades ursinas do Orkut, não?

Vicking: Uma coisa que acontece com a WOOF! é que ela se destaca como “o lado negro da força”, e isso não é verdade. Acho o fato de alguns grupos ursinos não concordarem que outros grupos também façam festas uma postura negativa, pois poderíamos estar unidos pelo fato de termos uma proposta parecida e o objetivo de fazer festas para divertir os ursos. Já tentei conversar e evitar que possíveis confusões possam acontecer com datas de eventos de outros organizadores de outras festas, por exemplo – mas não tive sucesso. Devia ser como nos outros países, onde há um sentimento sempre fraternal, é triste não sentir isto. Minha intenção não é criticar estes grupos, mas lamento este tipo de visão - há pessoas que nunca foram na festa, dizem que não gostam e eu me pergunto: como elas podem falar isso da nunca pisaram lá? Não estamos na WOOF! para fazer uma festa água-com-açúcar e sim uma festa bem quente, pimenta malagueta mesmo (risos), mas há pessoas achando que é uma putaria generalizada e estão muito equivocadas! A festa foi feita sem este tipo de pensamento e não toleramos baixaria. Temos um público muito bonito e másculo, não há carão como em certos ambientes que já fui e garanto que a WOOF! veio para ficar. Em 2008 vamos estourar!

BBM: Quais os projetos para a WOOF! em 2008?

Vicking: Estamos mais arrojados, mas ainda temos muitos problemas em achar as locações para abrigar as festas - afinal o segredo do sucesso é ter um bom espaço. Ter um espaço amplo é muito importante para nós, pois nosso diferencial é a produção visual detalhada, com shows de gogo bears a caráter – que são profissionais remunerados e achar mão-de-obra que se dispõe a fazer shows de boa qualidade foi uma grande dificuldade para a organização - e também contamos com três DJ’s. Nós da equipe adoramos a Pool Party que fizemos no Rio de Janeiro e estamos entusiasmados com projetos fora do eixo Rio/São Paulo, queremos que a Pool Party viaje pelo Brasil. Também há um projeto ambicioso para Florianópolis, onde queremos fazer a Pool Party e um Iate Party, com planos de estender o projeto também para o Rio. Mas claro que não deixaremos São Paulo de lado, pois foi o público mais expressivo e merece muita atenção.
Recentemente surgiu uma nova proposta de outro grupo, a BEARLAND e posso dizer que nossas festas são irmãs. Vamos trabalhar com cuidado nossas datas e fazer um espetáculo maravilhoso para este público que precisa de diversão. Acho que deve haver algo mais para agradar nossos ursos e o mais importante para nós é que conseguimos colocar o segmento bear na mídia, atraindo atenção e colaboração, inclusive de entidades internacionais através dos estrangeiros que viram e gostaram da festa no Rio.
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Foi um prazer enorme e agradeço imensamente a possibilidade de entrevistar esta pessoa sempre prestativa e atenciosa, o que pode ser confirmado por todos que o conhecem. Fui muito bem trado e sinto-me honrado por ter esta amizade.

Obrigado Mr. Vicking!